terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Difusão da informação geológica: ainda falamos em código ou nos comunicamos com a sociedade?


Este foi título de discussões em mesas redondas nos Congressos Brasileiros de Geologia promovidos pela Sociedade Brasileira de Geologia – SBG, e pelo Serviço Geológico do Brasil – SGB.

Comentamos sobre as dificuldades que os profissionais de Geologia têm em constituir bons canais de comunicação com a opinião pública, referindo-se ao uso do “vernáculo geologuês” como principal empecilho. Isto acontece também na esfera do ensino e dos livros didáticos. Embora os assuntos de Geociências despertem interesses e curiosidade em muitas pessoas, sistematicamente não conseguimos nos fazer entender, pelo emprego da terminologia técnica em vez do uso de uma linguagem compreensível ao público a que se destina.

Acontece também de pessoas que, ao se apropriarem desta linguagem técnica sem ou com rápida formação acadêmica, começam por mal utilizarem, mistificando-a como sinal de ‘status’ e acabam por contribuir para dificultar seu entendimento.

Para atingir o interesse da população em geral, é necessário sair da linguagem em código – tecnicista. Também existe o estereótipo histórico: a atividade de mineração no Brasil está ligada a clandestinidade, insalubridade, riqueza fácil, exploração imperialista, degradação ambiental. A população em geral tem uma relação de amor e ódio com atividades de mineração – sabe que precisa, mas tem uma imagem de degradação do meio ambiente, embora hoje em dia saibamos da exigência de planos de recuperação e prevenção.

Lembro de uma conversa que tive com um colega que atua em exploração mineral que comentou : “pecuária extensiva polui e erode muito mais do que a mineração, que é atividade pontual atingindo áreas restritas”. Posso agregar aqui uma frase da geóloga Lúcia Castanheira de Moraes (professora do curso de Mineração do CEFET Araxá): “Todo cidadão tem direito a ter conhecimentos de geologia e a entender a Terra”.

Atualmente, conhecer e entender os processos naturais constitui uma necessidade em razão das discussões que se fazem imperativas sobre escassez e comprometimento da qualidade dos recursos minerais, energéticos e hídricos; sobre aumento da insegurança habitacional e da vida causada pela expansão urbana; sobre os processos de desertificação; sobre flutuações e mudanças globais. E citando o colega Edézio de Carvalho: “quem conhece a própria casa não tropeça em cristaleiras”.

No mesmo sentido, é a frase do professor do Instituto de Geociências da UNICAMP, Maurício Compiani: “A geologia integra de forma sistematizada os conhecimentos sobre ar, água e solo, as intervenções humanas e as conseqüências de atuação da biosfera mo meio sócio-econômico, levando em conta o planejamento em padrões temporais de longo alcance e em padrões espaço-temporais”. Não por uma questão corporativa, nem de reserva de mercado, mas por responsabilidade social, citando exemplos de graves problemas de geo-engenharia: as estradas que necessitam de constante reposição de pavimentação, os deslizamentos de terra em áreas de risco, a Usina Angra dos Reis instalada sobre uma zona de falhas geológicas, portanto passível de instabilizações.

Já o professor Kenitiro Suguio, da USP, “brincou” que a causa do desconhecimento de processos geológicos é que no Brasil temos falta de terremotos e vulcões ativos – quanto a isto nada podemos fazer... Ele defendeu a introdução de conteúdos de Geologia a partir da 5ª série, não concorrendo com conteúdos de Geografia nem de Biologia, porque trata dos processos da “fisiologia” do planeta Terra.

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